Como a personalização data driven tem se tornado uma realidade para todos os negócios
Os últimos anos foram de mudanças intensas para todos, consumidores e empresas. Como citado em um post anterior aqui no blog, os primeiros meses de pandemia forçaram mudanças equivalentes a algo entre três e quatro anos de digitalização nas interações das empresas com seus fornecedores e consumidores. Boa parte dessas mudanças vieram para ficar e a maioria delas, pelo menos no âmbito digital, é data driven ou, em português, orientada por dados.
Antes restrita às big techs como Google, Microsoft ou Meta, a personalização de acordo com os dados de um cliente agora é uma realidade. Para todos, desde as menores empresas até as gigantes.
Essas mudanças também estabeleceram um novo patamar de qualidade esperada pelos consumidores quando se trata dos sites e apps das empresas. A última Pesquisa Nacional de Cartões de Crédito (PNCC, de 2022) aponta que quase 93% dos jovens (até 30 anos) das classes A e B1 usam aplicativos de bancos. A mesma pesquisa mostra que mesmo entre usuários com mais de 60 anos das classes D e E, o uso é de 40,7%.
Com o aumento da popularidade dos aplicativos e as pessoas fazendo praticamente tudo sem sair de casa, as expectativas aumentaram. Pra nossa sorte, esse aumento no uso vem com um bônus: nunca antes se teve tanta informação sobre a jornada do consumidor quanto agora. Resta saber como usar esses dados a nosso favor e com responsabilidade.
O imediatismo do consumidor
Quantas vezes você já se viu nessa situação: na cama, prestes a dormir, mexendo no celular só pra passar o tempo. De repente, um anúncio com um produto que você nem imaginava que precisava. Até aquele momento. Num piscar de olhos, inesperadamente, compra concluída.
Ou você senta pra jantar na frente da TV, abre o Netflix, roda o catálogo todo quatro vezes e decide assistir a série que todo mundo tava comentando essa semana. Quando vê, já terminou a primeira temporada e tá reclamando que a próxima sai só daqui a 11 meses.
Mandar um documento para um cliente em outro estado e receber assinado digitalmente alguns minutos depois.
Enfim, deu pra entender né? A gente espera que tudo seja feito cada vez mais de maneira instantânea. O que a maioria dos consumidores nem imagina é que, pra isso tudo acontecer impecavelmente, tem muita coisa acontecendo por trás dos panos (ou das telas).
Uma compra no Aliexpress feita às duas da manhã parece simples, mas precisa do seu banco e da operadora do cartão fazendo análises de crédito, prevenção de fraude, contato com o sistema do próprio Aliexpress para aprovar a compra, depois existe uma série de operações logísticas lá na China… Tudo isso precisa parecer, para o cliente, um processo único, contínuo e, principalmente, rápido.
Quanto mais simples e agradável o processo for para o consumidor, maior a chance de ele voltar a consumir.
O ‘Efeito Netflix’ e como a personalização data driven te faz se sentir especial
Aqui entra o pulo do gato: uma experiência como essa que eu relatei ali em cima é o mínimo que se espera hoje em dia. A gente não conta que o site vá dar erro na hora de concluir a compra, ou que a operadora do cartão barre alguma coisa por suspeitar que o site seja uma fraude. O próximo passo então é tentar se diferenciar pela personalização. Superada a expectativa de que todo site ou aplicativo funcione sem erros, é preciso que eles façam o cliente se sentir especial.
E nisso a Netflix foi pioneira. A possibilidade de retomar um filme ou série exatamente do minuto em que se parou foi revolucionária. Da mesma forma, foi revolucionária a habilidade de reconhecer as preferências do usuário, oferecendo um catálogo customizado.
Primordialmente, esse nível de personalização era quase inatingível para a maioria dos negócios. Seja pela falta de continuidade dos dados de uma etapa para a outra ou pela inabilidade de colocar esses dados em processos, a maioria dos setores sempre foi incapaz de alcançar uma customização tão profunda.
No entanto, nos últimos anos, justamente devido ao aumento no uso de serviços online, aliado a avanços em Inteligência Artificial e análise de dados, essa realidade tem mudado drasticamente.
Seguradoras: de pré-históricas ao auge da modernidade
Um dos melhores exemplos de mudança data driven é o setor de seguros. Conhecido pela burocracia ridiculamente interminável e um método de atendimento que se manteve praticamente intocado desde sempre, é um setor que tem visto mudanças animadoras.
Avanços em IA e Processamento de Linguagem Natural permitiram que as seguradoras analisem o histórico de engajamento dos clientes em e-mails, documentos e logs de ligações para desenvolver um sistema basicamente self-service, moldado de acordo com as preferências daquele cliente. Em outras palavras, clientes buscando por apólices e contratos, tentando acionar o seguro ou que queiram mudar a cobertura de um plano têm suas necessidades atendidas instantaneamente e, o melhor, de maneira personalizada. Chega de esperar duas horas no telefone ouvindo uma versão polifônica de Mozart e, quando finalmente é atendido, ouvir alguém te oferecendo mais algum produto.
Quando só ser data driven não é suficiente
O problema é que agora nós estamos caminhando para o ponto em que só oferecer uma experiência customizada não é mais suficiente. É um fenômeno normal, chamado de homogeneização de marca. Todo mundo começa a seguir uma tendência que era revolucionária, até que ela se torne obrigação e, no fim, todas as marcas estão fazendo a mesma coisa e parecem todas parte de um grande grupo.
A solução, então, é sair do novo básico. E sair do básico com o propósito de criar interações que sejam fundamentalmente melhores. Prever as necessidades do consumidor; oferecer soluções proativas, personalizadas; agregar valor a cada passo dentro da jornada dele.
De maneira idêntica ao que se faz em vendas offline, onde se ganha a confiança e a fidelidade de um cliente por ir além do que ele esperava, o atendimento no mundo digital deve seguir o mesmo caminho, mas melhorado. Com a ajuda da inteligência artificial e da interpretação de dados, é possível entregar produtos super personalizados e interações simplificadas.
Ironicamente, a chave para a humanização e customização desses processos digitais reside nos dados.
Ao criar um perfil altamente customizado de cada cliente, é possível não só perceber padrões entre todos os usuários, mas criar um sistema completamente personalizado para cada um deles. Essa é inegavelmente uma oportunidade única, tendo em vista que esse nível de personalização nunca antes foi possível, mesmo na interação ao vivo, offline.
Para chegar nesse patamar, no entanto, as empresas precisam rever suas estratégias digitais. A pesquisa mais recente da CMO Survey (setembro de 2022) apontou que quase metade das empresas consultadas nos EUA usam a análise de dados voltada para marketing. Ao mesmo tempo, só 3,6% dos profissionais consultados disse ter os talentos corretos para alavancar plenamente o uso de dados para marketing na empresa.
Para aqueles que tiverem esses dados e usa-los da maneira correta, com certeza as recompensas virão muito logo. Para os que ainda não começaram, o tempo está acabando.