Superar os medos no trabalho envolve entender de onde eles vieram.
O medo é parte do que nos torna humanos. Todo mundo sente medo em algum momento e definitivamente tentar reprimir esse sentimento não é o melhor caminho. Sobretudo quando a gente fala de inseguranças e medos no trabalho, é comum que eles nos prendam e a gente não saiba como progredir.
Eles nos prendem em padrões repetitivos e improdutivos, mesmo quando a gente quer progredir e mudar a maneira de agir. E aqui a gente não tá falando do nível de segurança psicológica que um líder determina pro time.
Óbvio que esse também é um fator importante pra determinar a performance geral do time e impacta na insegurança. Mas aqui a gente tá falando de um senso mais subjetivo de segurança, que é fundamentalmente sobre a maneira como a gente enxerga o mundo e quão seguros nos sentimos nele.
Esse senso deriva diretamente de experiências lá da nossa infância, que mudam a maneira como a gente enxerga as situações cotidianas. Não dá pra fugir: nós carregamos medos e traumas conosco, eles criam a sensação de segurança (ou insegurança) onde quer que a gente vá.
E eles continuam lá, mesmo chegando no topo da carreira, mudando de emprego, mudando de função… A não ser que você ativamente busque esses medos, entenda e, principalmente, os confronte.
Encarar e, sobretudo, superar os medos no trabalho envolve reflexão, vulnerabilidade e uma honestidade brutal. São passos que, ao ler aqui, talvez você considere simples. Mas eles levam tempo e é importante reconhecer o seu ritmo e os seus limites.
Entenda onde você está preso e articule seus medos a partir daí.
Esse é o primeiro passo: reconhecer onde você dá aquela travada. Essa é, afinal, a área onde você sabe que precisa melhorar, mas ainda não foi capaz de maneira consistente. Talvez você fique hesitante na hora de ter uma conversa difícil? Talvez seja uma dificuldade na hora que precisa ser mais decisivo? Pode ser até uma incapacidade de dizer não com frequência.
Então, você dá nome ao que te prende nessas situações, sem floreios e (ironicamente) sem medo. Pode ser que você tenha vergonha de dizer em voz alta, tenha medo de se queimar com seu líder ao revelar essas inseguranças. Mas saiba que elas são normais, todo mundo tem medo de alguma coisa e os seus medos no trabalho são, com certeza, mais comuns do que você pensa.
Pensando nos exemplos ali de cima, do primeiro parágrafo, respectivamente: o medo de danificar sua relação com alguém; medo de manchar a sua reputação ao tomar a decisão errada; medo de parecer pouco comprometido ao dizer não. São medos comuns, mas que pouca gente assume que tem.
Dos medos que a gente sente no trabalho, possivelmente o mais comum (e que se você disser que não sente eu vou responder que tá mentindo) é o de falhar. Prejudicar a carreira de um colega, desapontar os outros, perder o controle de uma situação são comuns também, e são medos relativamente complexos. Pensando de uma maneira mais ‘primitiva’, dá pra chegar em medos muito mais simples: se sentir desamparado, marginalizado, rejeitado, ou incapaz de prover.
São sentimentos silenciosos, muitas vezes inconscientes, mas que causam comportamentos contraprodutivos.
Em algum momento da sua vida, sobretudo na infância ou no começo da vida adulta, eles tiveram alguma utilidade. Nossos medos são uma ferramenta de sobrevivência. Mas conforme você progride, eles precisam ser superados.
Ao articular essas questões, você começa a examina mais de perto o que te prende. Entender isso é um passo gigantesco para começar a mudar.
Imagine se os seus maiores medos no trabalho virassem verdade.
Essa é a parte mais legal, porque a gente vê que cria problemas muito maiores do que eles são de fato. Imagina aí, o seu maior medo (no trabalho) virando realidade. E aí? Quais seriam as consequências diretas e imediatas disso? Perder um cliente? Desapontar alguém? Parecer não saber de alguma coisa?
A não ser que a consequência desse medo seja perder o seu trabalho e você não tenha condições de se manter até arranjar um novo, nada disso é realmente tão devastador quanto soa na nossa mente. E o melhor de tudo: na maioria das vezes, esses cenários nem são reais.
O medo de falhar, por exemplo, e perder um cliente, não bater uma meta, não é o que te prende. É a ideia de um cenário tão devastador que você nunca será capaz de se recuperar que te prende. É o sentimento de que, se você perder um cliente grande, por exemplo, você nunca vai encontrar outro igual.
O medo de dar uma ideia ruim e ser taxado de burro não envolve só isso. Na maior parte das vezes, envolve achar que alguém vai dar uma ideia melhor e que você nunca vai ser bom o suficiente. E aí as pessoas vão te achar incompetente e não vão querer trabalhar com você (leia-se: medo de ser marginalizado).
São medos viscerais, associados a ideias que te limitam mesmo sem que você se dê conta. Isso alimenta uma necessidade constante de garantir que você não vai falhar. É, em resumo, uma vida sob pressão constante.
Reflita sobre a história de origem desses medos.
De onde, na sua vida, esses medos e pensamentos limitantes vêm? Talvez essa resposta só venha com anos de terapia. Mas, talvez, você já saiba (e escolheu ignorar). Ter a consciência de onde e como essa visão limitada de mundo se formou pode ser libertador. Ao entender que esses medos tinham sentido e relevância em outro momento da sua vida, você também entende que eles podem não ser relevantes no contexto atual.
É uma grande doideira, mas talvez você faça correlações como ‘eu vivi uma infância competitiva com meu irmão e, por isso, agora eu enxergo pessoas no mesmo nível que eu dentro da empresa como rivais’; ou ‘durante a minha infância, meu pai perdeu o emprego e eu vivi com a insegurança de não ter onde morar no mês seguinte. Agora eu crio uma pressão gigante para que eu não passe pela mesma situação, mesmo tendo uma vida confortável’.
São coisas que, muitas vezes, levam anos para entender e mais tempo ainda para superar. Mas assim que você se liberta delas, vive uma vida muito mais tranquila.
Conduza experimentos seguros.
Sabendo que essas crenças e medos surgiram através de experiências diretas (e anteriores), se livrar deles pode envolver novas experiências que confrontem esses ideais. Pra isso, você pode conduzir uma série de experimentos seguros para testar esses medos e gradualmente se livrar deles.
Um experimento seguro não tem o risco de reforçar o que você acredita, nem tem um potencial de consequências negativos caso dê errado. Em outras palavras: não existe o risco de você ser demitido se cometer um erro grotesco.
No caso do trabalho, um experimento seguro é uma coisa fácil, de baixo risco, que você faz só pra coletar informações sobre a validade desse medo. Fazer isso ajuda a diminuir o controle que o medo tem sobre você e sobre o seu comportamento, dando gradualmente mais liberdade em relação à maneira como você age. Com o tempo, você ‘desaprende’ padrões antigos e desenvolve comportamentos novos, mais produtivos. Ao mesmo tempo, as chances de uma recaída vão diminuindo.
Na maioria das vezes, esses experimentos seguros envolvem falar com pessoas que você confia, ler sobre o comportamento de outros líderes e fazer pequenas e graduais mudanças. E envolvem, pra surpresa de zero pessoas, terapia.
É normal sentir ansiedade e medo no trabalho (e na vida em geral). Mas é possível dar uma diminuída no volume dos ruídos que esses medos causam e focar no que realmente importa, permitindo que você avance. A moral da história aqui é que as versões das verdades que você se contou no passado muito possivelmente não refletem a sua realidade atual.
Escancarar e desafiar esses medos permite que você derrube as barreiras que você mesmo criou.