Liderança se constrói com confiança
Quando a gente pensa em liderança, quase sempre a imagem que vem à cabeça é a do líder sem falhas, poderoso e forte. Mas no cotidiano essa imagem fica cada vez mais distante. A liderança não é sobre ser perfeito, mas sim sobre ser genuíno e honesto.
Quando os liderados enxergam seus líderes como autênticos e sinceros, o bem-estar coletivo melhora, eles acreditam mais na empresa em si, a performance melhora e as decisões se tornam mais éticas.
Líderes, no entanto, tendem a ter dificuldades para se desvencilhar dessa imagem sem defeitos. Um dos motivos pra isso é que pessoas em posição de liderança se sentem mais pressionadas a apresentar suas qualidades e esconder seus defeitos, tanto por uma decisão estratégica, para manter o respeito dos liderados, quanto por medo de parecerem inaptos aos cargos que ocupam.
No estudo citado acima, quando solicitado que os líderes mostrassem como se apresentavam para novos funcionários, quase todos só mostravam seus pontos fortes. Raramente alguém mencionava alguma fraqueza, com medo de que revelar um ponto fraco arranhasse sua imagem.
Por outro lado, curiosamente, a mesma pesquisa mostrou que deixar claro seus defeitos traz uma sensação de autenticidade, abrindo as portas para conexões mais próximas com os liderados. Ao mesmo tempo, quanto mais alto o cargo do líder, mais positivas as reações. No fim, não é importante apenas mostrar seu verdadeiro eu, mas a importância aumenta proporcionalmente ao risco de fazê-lo, na percepção geral.
Mas calma, não vai sair revelando tudo sobre você por aí
Ainda nesse mesmo estudo, um experimento com vinhetas foi realizado. Nele, foram apresentadas situações em que um líder compartilhava ou não alguma fraqueza, como falar mal em público ou não saber lidar com tecnologias. Como resultado, os líderes que compartilhavam as fraquezas eram vistos constantemente como mais autênticos, mas a percepção sobre sua competência não mudava.
Isso não significa que as coisas não tenham limites. Quando os líderes compartilhavam falhas de caráter sérias, como transgressões ou atitudes antiéticas, as coisas mudavam de figura. Além disso, as fraquezas têm que ser comuns à maioria das pessoas. Ataques de pânico durante uma reunião, por exemplo, não são muito bem tolerados.
Liderança honesta em um contexto mais real
Agora é hora de trazer as coisas para um contexto um pouco realista. Os autores então pediram para um executivo do Google gravar um discurso em que revelava uma fraqueza para os funcionários. A fala foi posteriormente editada para criar dois vídeos: um em que obviamente a revelação era mantida, e o outro sem esse trecho.
Aleatoriamente os empregados assistiram um dos dois clipes e depois avaliaram a autenticidade do executivo. Mesmo os que viram o discurso editado perceberam competência e acreditaram que o locutor era uma pessoa empática. Ou seja: o simples ato de ele ter revelado em algum momento a fraqueza fez com que todo o discurso fosse melhor, mesmo sem incluir o trecho.
Posteriormente, os autores perguntaram para os participantes sobre a motivação para que o executivo desse aquele discurso. Quem assistiu o vídeo editado respondeu que o discurso parecia ser uma estratégia de auto-promoção – a intenção era passar uma boa impressão. Os que viram o discurso completo, no entanto, consideraram que aquele era um discurso motivador e autêntico, sem intenções de auto-promoção por trás.
É sempre importante frisar, no entanto, que simplesmente expor uma fraqueza porque sim não é eficiente. Precisa ser uma atitude voluntária e genuína. As pessoas à sua volta não são burras. Elas percebem quando você expõe uma fraqueza depois de ser pego fazendo algo que não devia e quer só tentar escapar ileso. Isso inclusive piora as coisas.
A liderança é um jogo de confiança, no fim
A gente fica, o tempo todo, tentando adivinhar o que está por trás do comportamento das pessoas à nossa volta. Se a conclusão, no caso de compartilhar uma fraqueza ou um sentimento, por exemplo, é de que aquela foi uma atitude genuína, nós automaticamente passamos a confiar mais na pessoa.
No caso de relações de trabalho e liderança, funcionários que confiam em seus líderes tendem a continuar trabalhando com eles por mais tempo e gerar mais dinheiro para o time. A autenticidade gera confiança, que gera resultados positivos.
Apesar desse discurso todo, a gente sabe que existem algumas regras corporativas veladas sobre o que deve e o que não deve ser demonstrado no trabalho.
Então como criar o equilíbrio entre autenticidade e “profissionalismo”?
É normal que a gente ‘atue’ em muitas situações, fingindo que tá tudo certo ou que a gente não se entusiasmou muito com uma coisa que pode dar errado.
Pessoas em cargo de liderança sempre sofreram com a possibilidade de perder credibilidade, respeito ou admiração por demonstrar demais. Isso é especialmente verdade – que novidade, não? – para mulheres e pessoas não-brancas. São grupos que, historicamente, foram taxados de violentos ou ‘histéricos’ e, muito por conta disso, acabaram reprimindo sentimentos no ambiente profissional.
Mas isso faz mal pra saúde, literalmente. O stress gerado por guardar as coisas pra você, reprimir sentimentos e se sentir silenciado chega a causar dor corporal, além dos clássicos (insônia, depressão, ansiedade, burnout). Como se isso não bastasse, esse comportamento aumenta muito as chances de acabar explodindo e liberando tudo de uma vez.
Em troca, no caso de lideranças reprimindo emoções, você recebe funcionários pouco engajados, turnover altíssimo e performance financeira prejudicada.
Se você tem dificuldades com esse tipo de situação, aqui vão algumas dicas:
Reavalie a situação sempre que houver um conflito emocional
Se os seus sentimentos e as expectativas estão em discordância, melhor do que atuar é focar em encontrar motivos legítimos para se sentir da forma que se espera de você.
Parece difícil, mas é uma estratégia que se baseia muito no pensamento otimista. Supondo que você foi tirado de um cargo de liderança durante uma reestruturação, por exemplo. Talvez você se sinta mal porque não era o que você esperava (o que faz total sentido). As pessoas esperam que você se demonstre tranquilo com aquilo e um dos caminhos pra isso pode ser pensar nas próximas oportunidades que se abrem.
A empatia tem um papel fundamental aqui, porque às vezes o ponto positivo está na visão de outra pessoa. Se um funcionário precisa se ausentar por uma emergência e o caos se instaura no time, você pode pensar no quão feliz aquele funcionário se sente em poder contar com as pessoas do time em um momento tão delicado.
Óbvio que isso nem sempre é possível, além de ser uma solução que demanda tempo e esforço. Mas equipes com pessoas que tentam realivar as situações por uma óptica otimista sofrem menos com fadiga, confiam mais uns nos outros e se sentem mais pertencentes à empresa.
Foque no que importa de verdade
Focar no propósito do seu trabalho e nas pessoas que dependem e se beneficiam dele reduz as chances de um burnout.
Para mudar de foco, dê um passo atrás e reflita sobre a importância do seu trabalho. Que impacto ele tem nas pessoas do seu time, na vida dos seus clientes ou na comunidade em geral? Criar um cenário positivo para as pessoas com as quais a gente se importa pesa positivamente na hora de ponderar sobre demonstrar mais emoções e vê-las como vantajosas ao invés de um fardo.
Avalie as emoções
Situações emocionalmente dissonantes são sempre uma oportunidade de crescimento. Pergunte-se: O que eu estou sentindo? O que está causando esses sentimentos? O que a minha reação a essa situação diz sobre os meus valores e crenças?
Desde sempre a gente aprende que emoções são ruins. Quem nunca ouviu, quando criança, que chorar era feio, que era pra gente se acalmar ou se conter? Mas as emoções são tão naturais quanto nós mesmos e nos ajudam a entender o mundo, tomar decisões melhores e construir relacionamentos.
Então pense sempre se seu desconforto vem da sua descrença na validade das emoções. Reavalie, caso a conclusão seja essa, e valide as suas emoções.
Esse é um processo que constrói inteligência emocional, qualidade essencial para a liderança.
Tire um tempo pra descomprimir
Antes de mais nada, vai fazer terapia. É um suporte emocional profissional. Além disso, conecte-se com pessoas que você sabe que te deixam livre e confortável para se expressar. Praticar atividades que te ajudam a relaxar, seja praticar qualquer hobby, se desligar do trabalho um pouco ou simplesmente não fazer nada é essencial para desestressar.
É importante, por fim, praticar a auto-compaixão. Se tratar bem é o primeiro passo pra ter equilíbrio e entender as suas emoções, além de ser um exercício para tratar os outros melhor.
Raramente um líder chega num cargo de liderança 100% preparado, então antes de pegar leve com os outros, é importante pegar leve com você mesmo.
Seu trabalho emocional enquanto líder é essencial hoje em dia. A inteligência emocional é crucial na hora de motivar, apoiar e orientar seus liderados, mas isso não deve ter como custo a sua própria saúde mental (e em casos extremos física). Aprender a lidar com as emoções, dos outros e suas, é o caminho do sucesso.