Análise de dados e decisão no futebol

O que a análise de dados no futebol nos ensina

Eu sei que esse não é o timing ideal para falar de futebol, depois da eliminação amarga do Brasil (um lembrete a possíveis leitores no futuro: esse artigo é de 10/12/2022, logo após a eliminação do Brasil na Copa do Catar). Mas é um momento interessante para falar de um assunto que geralmente é considerado chato de um jeito mais lúdico: análise de dados.

A maioria dos times de futebol hoje em dia tem uma equipe toda dedicada a analisar dados e estatísticas, para entender estratégias, táticas e comportamentos que podem ajudar a vencer cada partida. Tão importante quanto os jogadores de fato, são analistas dedicados a descobrir talentos, jogadores que podem melhorar o elenco, antes que o adversário descubra.

Só aqui já dá pra entender a correlação entre um time de futebol de elite e uma empresa com performance ótima. Mas hoje eu quero ir mais a fundo nesse assunto, mostrando como a tecnologia auxilia num esporte de ponta.

O risco de confiar na intuição

Quem nasceu no começo dos anos 90 que nem eu deve se lembrar da final da copa de 2006 (a da cabeçada do Zidane no Materazzi). Foi uma partida entre Itália e França, e a seleção italiana ganhou nos pênaltis. O Buffon, goleiro da Itália e um dos melhores da história, disse que não tava se sentindo confiante no dia.

Ele mesmo admite que não era uma pessoa que se preparava pra momentos como esse com base em estatísticas, preferindo confiar na intuição. Até o momento em que o Trezeguet, companheiro de time dele na Juventus, foi bater.

Nos treinos, o Trezeguet costumava bater os pênaltis justamente contra o Buffon. Ele sabia como o atacante francês gostava de bater (baixo, na direita) e, por isso, sabia exatamente o que fazer. O Trezeguet foi forçado a mudar de estratégia e acabou chutando no travessão. Foi o suficiente para a Itália conquistar o tetracampeonato.

Aqui o Trezeguet podia fazer o que o deixaria na zona de conforto, batendo como sempre bateu, mas ele sabia que o Buffon pularia no canto direito. Decidiu assumir o risco e acabou perdendo um título. Não fosse contra um companheiro de time, o Buffon poderia muito bem ter errado e a França teria sido campeã. Essa foi uma lição para todos os outros times do mundo: pênalti não é loteria, como todo mundo diz. Existe uma maneira de triunfar num duelo que parece impossível.

E o risco de não confiar na estratégia

Jogos difíceis (leia-se finais) decididos nos pênaltis não são raros. Pelo contrário, eles são bastante comuns. Um exemplo clássico do uso da análise estatística nesses casos é a final da Champions League de 2008 (pouco depois da final fatídica de Copa do Mundo acima). Decidida entre Chelsea e Manchester United, o técnico do Chelsea usou um estudo do economista espanhol Ignacio Palacios Huerta, que criou um banco de dados com milhares de cobranças de pênaltis.

No estudo do economista espanhol, um dado chamava atenção: O goleiro do Manchester United, van der Saar, quase sempre pulava para a direita. Todos os seis pênaltis cobrados pelo Chelsea foram, então, batidos no canto esquerdo.

O plano foi ótimo, van der Saar não defendeu nenhum. Mas o John Terry escorregou e bateu pra fora. Na batida seguinte, o van der Saar percebeu a estratégia e, quando o Anelka foi bater, ele apontou pro canto esquerdo, como quem diz ‘Eu sei que você vai bater aqui.’. O Anelka decidiu mudar de estratégia. Bateu mal, a meia altura, que era justamente onde os estudos mostravam que o van der Saar era excepcional. Ele defendeu. O Manchester United ganhou.

Onde a análise de dados triunfa

Não a toa, esse exemplo aí de cima vem da liga mais rica do mundo. A liga inglesa é recheada de especialistas em dados: O departamento de pesquisas do Liverpool é liderado por um físico especializado em polímeros; o Arsenal contratou um engenheiro de software do Facebook pra ser cientista de dados; o Manchester City contratou um cientista de IA, com PhD em astrofísica computacional.

Só pra deixar claro aqui: O Liverpool foi campeão em 2019-20, City foi campeão nos dois anos seguintes. O Arsenal, que vinha de uma série de decepções, tá liderando o campeonato inglês com folga esse ano.

São times vitoriosos, que não só investem em contratar os melhores talentos possíveis em campo, mas estão na vanguarda da tecnologia quando se trata de análise de dados para tirar o melhor de cada jogador contra adversários que jogam de maneiras totalmente diversas.

Se você assistiu a copa, percebeu que existe MUITA tecnologia por trás de cada jogo. O VAR, sempre polêmico, tem se tornado cada vez menos suscetível a erros humanos. Os jogadores têm todo tipo de dado analisado, o tempo todo. Quanto, onde e quando correram, dados de movimentação.

Essa é a bola da Copa do Mundo por dentro:

A bola da copa do Catar por dentro. São diversos sensores, dedicados a coletar uma infinidade de dados.

A bola tem sensores que não afetam na jogabilidade, mas coletam dados 500 vezes por segundo, revelando toques sutis, velocidade de chute, localização da bola no campo, rotação… O que você quiser saber. Isso permite análises muito mais profundas do jogo, tanto coletivo quanto individual, só depende de saber usar.

Medindo dados intangíveis

Além desses dados que podem parecer mais fáceis de obter, a tecnologia começou a permear áreas antes inacessíveis: ‘Jogos’ de realidade virtual criados especificamente para treinos de tomada de decisão em momentos de pressão avaliam a capacidade psicológica de um jogador. São situações de stress real, que empresas começaram a adaptar para sua realidade, fazendo com que tomadores de decisão se sintam desafiados, mas ainda em um ambiente seguro, em que errar não é de fato um problema.

Os fundadores da empresa citada acima criaram uma versão voltada para negócios, chamada Attensi. Nela, empregados podem treinar a tomada de decisão em ambientes que simulam a metodologia usada pela Nestlé, por exemplo. Outras empresas, como a rede de restaurantes itsu, ou a SPAR (gigante varejista de alimentos da Holanda), também usam simulações para treinar seus empregados.

Essas simulações permitem que os empregados pratiquem respostas a uma série de cenários desafiadores, porém baseados na realidade. Na itsu, esse treinamento aumentou a retenção de empregados em 29%, mostrando que eles além de serem mais aptos ao cargo, se mostraram mais interessados.

Os dados, assim como no futebol, mostram em que momentos as pessoas agem, onde elas hesitam e como elas se sentem mais confortáveis, permitindo um treinamento muito mais personalizado e uma evolução muito mais rápida.

Isso muda completamente a maneira como o jogo é jogado, tanto quando a gente fala de futebol, quanto de negócios. As oportunidades aumentam, assim como as chances de sucesso. A tomada de decisão fica muito mais precisa, além de as pessoas ficarem mais confiantes quando são apresentadas aos dados.

A lição a ser tirada

Tem ficado cada vez mais claro que quem souber o que fazer com os dados, vai triunfar cada vez mais enquanto os outros ficarem parados no tempo.

Entender como os dados podem revelar o futuro é um desafio comum a todo tomador de decisão, e é essa a maior lição aqui. Portanto, os dados devem guiar a estratégia, seja no futebol ou numa empresa.

Eles são, antes de mais nada, muito mais embasados do que qualquer intuição e podem ser a diferença entre o fracasso e o sucesso. Já escrevi várias vezes sobre como saber usar um dado a seu favor quase sempre é sinônimo de sucesso, seja para entender o seu consumidor e o mercado, seja para descobrir possíveis falhas de execução ou estratégia.

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Estratégia de Precificação: como garantir o preço certo para o seu produto

Preço é um assunto cultural no Brasil. Estamos sempre atrás de uma liquidação e não hesitamos em pedir um descontinho.

 

Mas, não estamos aqui pra criticar a nossa cultura.

 

O objetivo desse artigo é te ajudar a entender como precificar o seu produto da melhor maneira possível para o seu cliente e para o seu negócio.

 

Preço não é uma coisa só

Existem basicamente duas perspectivas quanto ao preço de um produto: o quanto o seu cliente aceita pagar e o que quanto você pretende ganhar.

 

Ninguém gasta dinheiro à toa. O cliente sempre fará um juízo de valor para entender se o preço que você está cobrando vale a pena ou não.

 

Ao mesmo tempo, toda venda do seu produto precisa gerar lucro para o negócio.

 

E aí temos o equilíbrio: o quanto o cliente aceita pagar e o quanto você aceita ganhar.

 

Precificação na prática

Certo, você já sabe que o seu objetivo é atingir esse equilíbrio citado acima. Então vamos ver como isso funciona na prática.

 

Quanto você precisa ganhar?

Primeiro, entenda o quanto você quer (ou precisa) ganhar com a venda dos seus produtos. Aqui, entram dados básicos, mas que muitos gestores não possuem na ponta do lápis.

 

O primeiro passo é conhecer o custo total e exato do seu produto ou serviço. Isso inclui todos os custos fixos e variáveis de produção, entrega e até vendas. Se estivermos falando de um serviço, inclua os custos com as pessoas envolvidas.

 

O segundo passo é encontrar a sua margem líquida, que deverá estar em algum lugar entre 5% e 25%. Claro, essa é uma margem bem generalista, que é válida para a grande maioria dos negócios.

 

Então, de maneira geral, entenda que se a sua margem está abaixo de 5%, você provavelmente tem problemas no seu modelo de negócio. Por outro lado, se ela estiver acima de 25%, você possui um modelo de negócio mais rentável do que o comum.

 

Por fim, projete esses ganhos líquidos para 12 meses. A pergunta que você quer responder aqui é: se eu vender meu produto ou serviço por esse preço, com essa margem líquida, a receita final vai valer a pena de todo o meu esforço?

 

Quanto seu cliente aceita pagar?

Agora, você deve entender o quanto o cliente aceita pagar por seus produtos. Essa é a hora de realizar pesquisas para ir atrás de dados externos.

 

O primeiro passo é estudar a concorrência para descobrir quanto os outros players cobram por soluções similares às suas. Um cliente oculto pode te ajudar bastante nessa fase.

 

Em seguida, estude o comportamento de compra do seu público-alvo para entender com o que essas pessoas costumam gastar mais dinheiro. Aqui, uma pesquisa de campo com clientes reais pode te dar bastante clareza.

 

Aproveitando o contato direto com clientes, busque entender o valor que eles enxergam no produto ou serviço. Uma dica aqui é procurar por respostas como, o que eles valorizam e o que acham que falta na solução? O que os deixaria maravilhados se tivessem?

 

Pegou até aqui? Vamos aplicar essa ideia para 4 cenários diferentes:

 

Cenários de Precificação

Para pensar preço, temos esses 4 cenários e você pode enxergar neles o seu momento atual, seu passado, ou se deparar com eles no futuro.

 

Cenário 1 – Quando você está lançando algo novo

  • Estratégia: testar preços (pesquisa e prática).
  • Objetivo: conquistar rapidamente uma boa fatia do mercado.
  • Problema: pode ser difícil subir o preço depois.

 

Lançar um novo produto no mercado pode ser uma tarefa desafiadora. No entanto, a estratégia de precificação correta pode facilitar esse processo.

 

Um produto novo precisa ser testado no mercado. Pesquisas de mercado e práticas de precificação podem ajudar a encontrar o preço inicial ideal. Uma estratégia comum é a precificação de penetração, onde o preço é estabelecido baixo para atrair clientes rapidamente.

 

O problema com essa abordagem é que pode ser difícil aumentar o preço posteriormente sem perder clientes.

 

Exemplo prático:

 

Imagine que você está lançando um novo produto de consumo, como um suco orgânico. A pesquisa de mercado mostra que os consumidores estão dispostos a pagar entre R$ 5 e R$ 10 por uma garrafa de suco orgânico.

 

Você decide lançar o produto a R$ 7,50 para atrair um público amplo. Após 6 meses, você avalia as vendas e decide manter o preço, pois ele está gerando uma boa margem de lucro e os clientes estão satisfeitos.

 

Cenário 2 – Quando você quer reajustar o valor para deixar seu produto mais “premium”

  • Estratégia: precificação premium.
  • Objetivo: aumentar a percepção de valor.
  • Problema: Pode ter um teto de faturamento do produto.

 

Para produtos de alta qualidade e segmentos exclusivos, uma estratégia de precificação premium é ideal.

 

Esses produtos têm maior valor agregado e são direcionados a um público que está disposto a pagar mais por exclusividade e qualidade.

 

No entanto, essa estratégia pode resultar em um teto de faturamento, especialmente se a marca não for tão reconhecida quanto grandes marcas de luxo.

 

Exemplo prático:

 

Agora, imagine que você está vendendo um software empresarial de alta qualidade. O software oferece funcionalidades avançadas que não são encontradas em produtos concorrentes.

 

Você define um preço premium de R$ 2.000 por licença, justificando o preço com a exclusividade e a qualidade superior do produto.

 

A estratégia funciona bem para atrair empresas dispostas a pagar mais por melhores resultados.

 

Cenário 3 – Quando você quer pensar em desconto ou promoção

  • Estratégia: preço reduzido por um tempo limitado.
  • Objetivo: Aumentar vendas em curto prazo.
  • Problema: Muito desconto pode significar que o preço estava com muita margem, ou que o valor do produto está no preço (commodity).

 

Descontos são uma maneira eficaz de atrair clientes em curto prazo, mas devem ser usados com cautela.

 

Reduzir o preço por um tempo limitado pode aumentar as vendas rapidamente, mas também pode sinalizar que o preço original estava inflado.

 

Além disso, descontos frequentes podem levar os clientes a perceberem o produto como uma commodity, diminuindo seu valor percebido.

 

Exemplo prático:

 

Você administra uma loja de moda e decide fazer uma promoção de inverno. Todos os itens de inverno têm um desconto de 20% por um mês.

 

Essa estratégia atrai muitos clientes e aumenta as vendas durante a temporada. No entanto, você garante que os preços com desconto ainda cubram os custos e gerem lucro.

 

Cenário 4 – Quando você quer pensar em pacotes

  • Estratégia: preço por conjunto de produtos ou serviços.
  • Objetivo: vender variedade de soluções.
  • Problema: Pode não se encaixar 100% com a necessidade do cliente.

 

Oferecer pacotes é uma excelente estratégia para aumentar o valor percebido e a conveniência para o cliente.

 

Ao combinar vários produtos ou serviços, você pode oferecer um preço mais atraente do que se cada item fosse comprado separadamente.

 

No entanto, é importante garantir que os pacotes ofereçam valor real e atendam às necessidades dos clientes, caso contrário, eles podem não ver vantagem na oferta.

 

Exemplo prático:

 

Você possui uma empresa de consultoria e decide oferecer pacotes de serviços. Um pacote básico inclui 10 horas de consultoria por R$ 2.000, enquanto um pacote premium oferece 30 horas por R$ 5.000.

 

Os pacotes atraem clientes que buscam uma solução completa a um preço vantajoso em comparação com a compra de horas de consultoria individualmente.

 

Equilibre preço e lucro na sua estratégia

A estratégia de precificação é crucial para o sucesso do seu negócio. Ela deve equilibrar o quanto o cliente está disposto a pagar e o quanto você precisa ganhar.

 

Compreender os custos, a margem líquida, e o valor percebido pelo cliente são passos essenciais para definir o preço certo. Ao aplicar diferentes estratégias de precificação – seja para produtos novos, ajustes premium, descontos ou pacotes – você pode encontrar a abordagem que melhor se adapta ao seu negócio e mercado.

 

Não subestime a importância de uma estratégia de precificação bem definida. Ela pode ser o diferencial que leva seu produto ao sucesso, garantindo lucro e satisfação do cliente.

 

Comece a aplicar essas práticas hoje mesmo e veja a diferença nos resultados do seu negócio.

Estratégia de Produto: como garantir o encaixe perfeito no mercado

Eu sei que você enxerga seu produto como um bebê. Pensa nele o dia todo, perde o sono à noite, e acredita que é perfeito. Cuida muito bem dele e toda crítica que recebe dói bem lá no fundo.

 

Porém, é bem provável que se preocupe mais em desenvolver e moldar a sua cultura organizacional, o corpo de funcionários e até a própria marca, do que em desenvolver o seu produto.

 

Essa visão de que o produto é perfeito e que nada nele pode ser alterado, impede que você foque no que realmente importa: satisfazer seus clientes.

 

Anote isso: o verdadeiro crescimento começa com a criação de um produto que seus clientes realmente desejam.

 

Dito isso, vamos te ensinar a desenvolver uma boa estratégia de produto, focada em gerar valor de verdade para seus clientes.

 

Benefícios VS Funcionalidades

Primeiramente, vamos diferenciar o que são benefícios e o que são funcionalidades do seu produto.

 

Funcionalidade é o que seu produto faz, enquanto benefício é o que ele proporciona ao cliente.

 

Por exemplo, a funcionalidade de uma plataforma de marketing pode ser automatizar o envio de e-mails, enquanto o benefício é economizar tempo e aumentar o engajamento com os clientes.

 

Entender essa diferença é crucial para desenvolver uma estratégia de produto eficaz.

 

Muitas empresas se concentram apenas nas funcionalidades de seus produtos, acreditando que desenvolver novos recursos automaticamente gerará mais valor para os clientes.

 

No entanto, é o benefício final que realmente importa para o usuário. Um produto pode ter inúmeras funcionalidades, mas se não oferecer um benefício claro e tangível, ele não conseguirá atrair e reter clientes.

 

O Conceito de Product Market Fit

Agora, vamos falar sobre um conceito essencial: Product Market Fit (PMF), ou, de forma bem direta, quando o seu produto “encaixou na veia” do mercado – ou “deu match”, para os mais jovens. Quando uma empresa atinge o PMF, ela começa a crescer de forma exponencial.

 

O Product Market Fit ocorre quando seu produto satisfaz plenamente as necessidades do mercado alvo. Empresas que alcançam esse estágio experimentam um crescimento acelerado, porque o produto encontra uma demanda significativa entre os consumidores.

 

Esse é o ponto onde a retenção de clientes é alta e o boca a boca começa a impulsionar o crescimento da empresa.

 

Mas como, então, alcançar esse encaixe perfeito?

 

A resposta está em entender profundamente o seu mercado e os seus clientes. Isso envolve pesquisa de mercado, feedback contínuo dos clientes, e iteração constante do produto com base nesse feedback.

 

Framework para Alcançar o Product Market Fit

Um modelo bastante eficaz para você alcançar o PMF é o Canvas de Proposta de Valor, que nada mais é do que uma ferramenta visual que ajuda a mapear e entender os componentes essenciais de um negócio, incluindo a proposta de valor e o perfil do cliente.

 

A chave aqui é alinhar perfeitamente as necessidades do cliente com as ofertas do produto.

 

Quando aplicamos esse modelo ao desenvolvimento de produtos, focamos em três principais áreas: tarefas dos clientes, dores dos clientes, e ganhos dos clientes.

 

  1. Tarefas dos Clientes: O que os clientes estão tentando realizar? Quais são as suas metas e objetivos? – Entender isso ajuda a alinhar seu produto para apoiar essas tarefas.
  2. Dores dos Clientes: Quais são os obstáculos e desafios que os clientes enfrentam? – Isso inclui tudo o que dificulta ou impede que eles realizem suas tarefas.
  3. Ganhos dos Clientes: Quais são os resultados desejados ou benefícios que os clientes procuram? – Esses ganhos podem ser funcionais, emocionais ou até mesmo sociais.

 

Ao mapear essas três áreas, você pode começar a alinhar sua proposta de valor para atender às necessidades específicas de seus clientes.

 

Vamos explorar este conceito com um exemplo prático.

 

A proposta de valor do Lend a Hand

Vamos explorar este conceito com um exemplo prático de uma empresa chamada Lend a Hand, uma empresa do grupo Traction que oferece serviços de criação e edição de imagens e vídeos para pessoas que precisam criar conteúdo, sejam equipes internas de marketing, agências, ou prestadores de serviço autônomos.

 

Tarefas dos Clientes:

  • Criadores de conteúdo precisam de imagens e vídeos de alta qualidade para utilizarem em redes sociais, landing pages, anúncios, emails, etc. Eles buscam formas eficazes e eficientes de produzir esse conteúdo sem comprometer a qualidade.

 

Dores dos Clientes:

  • Habilidades limitadas em criação e edição de mídia.
  • Falta de tempo para criar e editar imagens e vídeos.
  • Orçamento restrito para contratar profissionais – muitos criadores de conteúdo são freelancers ou pequenas empresas que não têm recursos para contratar uma equipe completa de design e edição.

 

Benefícios dos Clientes:

  • Vídeos profissionais que aumentam o engajamento e a credibilidade.
  • Processo de criação rápido e fácil.
  • Custo-benefício na produção de vídeos. Além disso, eles procuram uma solução que permita escalar suas operações sem aumentar proporcionalmente os custos.

 

 

Produtos e Serviços:

  • Serviço de criação e edição de imagens e vídeos com briefing facilitado e profissionais qualificados. Lend a Hand oferece uma plataforma intuitiva onde os clientes podem enviar um briefing simples e receber conteúdos de alta qualidade em pouco tempo.

 

Aliviam as dores:

  • Interface intuitiva que economiza tempo. A plataforma é projetada para ser fácil de usar, mesmo para aqueles com pouca experiência em design.
  • Preços acessíveis. Os clientes podem escolher opções de entrega rápida e pagar apenas pelos serviços que utilizam, o que oferece flexibilidade e controle de custos.

 

Criadores de ganhos:

  • Briefings otimizados que agilizam o processo. O Lend a Hand oferece modelos de briefing que ajudam os clientes a comunicar suas necessidades de forma clara e eficiente.
  • Recurso de alta prioridade para necessidades urgentes. Para projetos que exigem uma resposta rápida, há uma opção de alta prioridade que garante que os clientes recebam seu conteúdo ainda mais rápido.
  • Funcionalidade baseada em créditos on-demand (pagamento por uso). Os clientes compram créditos que podem ser usados conforme necessário, proporcionando uma maneira flexível e escalável de acessar serviços de criação e edição.

 

 

Este exercício deve ser realizado e revisado regularmente para garantir que as informações correspondam à realidade do cliente, baseada em pesquisas e observações contínuas.

 

Mantenha sempre o foco no cliente

A chave para uma estratégia de produto bem-sucedida está em entender profundamente as necessidades e desejos dos seus clientes e alinhar seu produto para atender essas demandas.

 

Para isso, você deve saber diferencias as funcionalidades do seu produto e os benefícios que ele proporciona para seus clientes. Aqui, frameworks como o Canvas de Proposta de Valor podem te ajudar a clarear a sua visão.

 

O sucesso de uma estratégia de produto e para atingir o Product Market Fit (PMF) não vem apenas de criar algo inovador, mas de criar algo que ressoe com seus clientes e resolva problemas reais que eles enfrentam.

 

Portanto, uma abordagem centrada no cliente e o uso de ferramentas estratégicas podem te ajudar a desenvolver produtos que não apenas atraem, mas retêm clientes, impulsionando o crescimento sustentável do seu negócio.

Como encontrar o seu Perfil de Cliente Ideal (ICP)

Público-alvo, target, persona… Independente do nome, você precisa saber identificar corretamente quem compre e quem não compra de você. Para isso, ser específico é a chave para definir o seu perfil de cliente ideal, ou seja, o público-alvo que realmente faz sentido para o seu negócio.

 

E, para além das características desse público, você também precisa ser específico em ralação às soluções que você oferece. Afinal, é muito provável que cada produto ou serviço que você venda, acabe atraindo um perfil diferente – e específico – de pessoas.

 

É aquela história: quem quer vender para todo mundo, acaba não vendendo para ninguém.

 

Ok. E como eu faço, então, para deixar de ser generalista no meu público-alvo e definir um perfil específico e assertivo? – é isso que veremos nesse artigo.

 

Critérios de definição do público-alvo

Antes de mostrarmos o como, vamos definir alguns conceitos importantes para você compreender melhor o perfil do seu público-alvo. Aqui, estamos falando de níveis e tipos de segmentação.

 

Enquanto os níveis ditam o quão, de fato, o seu público-alvo é específico ou abrangente, os tipos de segmentação nos guiam para definir as características desse público.

 

Níveis de segmentação

A primeira coisa que você deve considerar sobre o seu público-alvo é o nível de segmentação em que você vai se apoiar.

 

Existem basicamente 4 níveis de segmentação: massa, segmento, nicho, ou individualizado.

 

Os níveis vão claramente do mais generalista para o mais específico. E, por mais que seja, sim, importante você ser específico, também é importante que você saiba ser específico na medida correta.

 

Afinal, existem produtos que são direcionados para “todo mundo”.

 

O problema está em você achar que o seu produto serve para todo mundo simplesmente porque tem medo de aceitar que ele não serve. Essa é a armadilha que queremos evitar.

 

Dito isso, vamos para os níveis de segmentação que você pode utilizar no seu público-alvo.

 

Nível de massa

O primeiro nível é o de massa. Aqui estão os produtos que são realmente voltados para todo mundo, com nenhuma ou pouquíssimas restrições.

 

Se o seu produto serve a pessoas jovens, adultas e idosas, independente da localização, do gênero, da classe social, ou da ocupação delas, então você, sim, posicionar o seu produto como sendo de massa.

 

A Coca-cola sempre será um dos maiores exemplos de produto de massa do mundo.

 

E por mais que não pareça, produtos de massa encontram grandes desafios de comunicação, afinal, por mais que eles sirvam para todos os públicos, cada grupo de pessoas vai ter uma relação diferente com eles e com as mensagens utilizadas para divulgá-los.

 

Na prática, isso quer dizer que você vai precisar fazer duas coisas: criar mensagens extremamente generalistas, que abracem a todos; e dividir o seu público de massa em subgrupos e criar comunicações personalizadas, buscando gerar conexões diretas com cada um deles.

 

Nível de segmento

Se você pegar uma fatia ainda grande dessa massa, você terá um segmento. Por exemplo, temos o Kinder Ovo que, apesar de ser relativamente elitizado por seu preço no Brasil, ele é um queridinho das crianças de todos os contextos.

 

Ao contrário do Bis, que apesar de também ser um chocolatinho, se posicionada como um produto de massa.

 

Também podemos definir segmentos por profissões, por exemplo, como produtos ou serviços voltados para médicos, ou para engenheiros, ou para varejistas… E por aí vai.

 

Produtos de segmento carregam as vantagens dos produtos de massa (um público muito volumoso), mas com um desafio menor de comunicação.

 

Nível de nicho

O nicho é uma fatia ainda menor do seu segmento. Mas mais do que isso, um nicho é um grupo específico de pessoas, que possuem muitas coisas em comum.

 

E é exatamente essa a grande vantagem de você direcionar a sua solução a um nicho: a certeza de que todo o seu público vai se identificar com ela da mesma maneira e utilizá-la para resolver o mesmo problema.

 

Essa vantagem é extremamente poderosa, pois uma vez que você possui um nicho específico como público-alvo, você se torna capaz de estudar a fundo o comportamento dessas pessoas, sendo cada vez mais preciso na sua solução e gerando mais valor para seus clientes.

 

Dois exemplos comuns que podemos citar aqui, são os nichos gamer e fitness. Desde que surgiram marcas específicas voltadas a esses dois nichos, muitas marcas criaram novas linhas de produtos direcionados a eles, muitas vezes apenas repaginando produtos existentes com uma “nova roupagem”, alterando a comunicação e ressaltando características que essas pessoas valorizariam.

 

Também é possível que existam sub-nichos, ou seja, grupos ainda mais específicos dentro do público selecionado. Se trouxermos para o contexto B2B, podemos imaginar um serviço de treinamento de vendas para corretores imobiliários como uma solução de nicho, por exemplo.

 

Mas, se quisermos ser ainda mais específicos, podemos imaginar o mesmo treinamento, mas voltado apenas corretores imobiliários que lidam com pequenos imóveis funcionais na cidade de São Paulo, ou em outras capitais.

 

Nesse sentido, quanto mais nichado for o seu público, mais específico deverá ser o seu produto ou serviço e, consequentemente, mais próximo ele estará de ser uma solução personalizada – ou melhor, individualizada, que é nosso último nível de segmentação.

 

Nível individualizado

A grande verdade é que as pessoas anseiam por coisas que foram feitas para elas.

 

E, ao passo que nichar o seu produto pode te dar a vantagem de gerar “o mesmo valor” para todos os seus clientes, uma solução individualizada carrega um poder que pode ser ainda maior: o poder da exclusividade.

 

É muito comum encontrarmos produtos individualizados no mercado de luxo. Rolls-Royce é um grande exemplo disso, permitindo que o cliente escolha combinações de cores e materiais exclusivos do carro e até do icônico guarda-chuva que vem com ele.

 

O mesmo pode acontecer no B2B, em que um software, ou mesmo um serviço, pode ser construído do zero, pensando no problema específico da empresa que o contratou.

 

O grande problema de oferecer soluções individualizadas é a falta de escalabilidade, que, por sua vez, é equilibrada pelo alto ticket que pode – e deve – acompanhá-la.

 

Tipos de segmentação

Os tipos de segmentação nada mais são do que alguns conjuntos de características que devem ser consideradas na hora em que você estiver determinando o público-alvo do seu produto.

 

Assim como os níveis, vamos dividir os tipos em 4 grupos de características: geografia, demografia, psicografia e comportamentos.

 

Enquanto a geografia diz respeito à localização (onde as pessoas vivem, ou onde está a sede de uma empresa), as características demográficas nos dão informações básicas sobre essas pessoas, como idade, gênero, estado civil, escolaridade, classe social, etc.

 

Existe ainda o termo firmografia, que traz informações estruturais do seu mercado-alvo, como setor de atuação, modelo de negócio, volume de faturamento, número de funcionários, número de clientes, etc.

 

As características psicográficas, por sua vez, dizem respeito ao estilo de vida das pessoas. Suas motivações, seus medos, seus hobbies e sua personalidade, como um todo.

 

Por outro lado, as características comportamentais representam os hábitos de compra das pessoas, se são mais impulsivos, mais racionais, se costumam comprar mais online, ou se preferem ir à loja, por exemplo.

 

Encontrando o seu público-alvo correto

Certo, agora que você já sabe determinar o nível de segmentação e as características básicas do seu público-alvo, a sua missão deve ser encontrar o seu perfil de cliente ideal, ou ICP (Ideal Customer Profile).

 

E, para isso, vamos trazer um traçar um caminho bastante prático para você sair do generalismo.

 

Como identificar o seu perfil de cliente ideal (ICP)

Quando falamos de ICP, não estamos só falando de quem compra mais de você, ou compra seu produto mais caro.

 

Claro que esse comportamento é importante, mas o seu cliente ideal deve ir além disso: são clientes que recebem e valorizam todo o valor que a sua solução entrega para eles e te retornam o maior valor possível, não só financeiramente.

 

Ou seja, o seu ICP é composto deve ser composto por pessoas que compram de você, utilizam o seu produto ou serviço da maneira correta, sentem-se satisfeitos e te indicam para outras pessoas.

 

Pensando por esse caminho, é muito provável que você consiga identificar rapidamente alguns clientes que se encaixem nessas características. Pois bem, essas são as pessoas (ou empresas) que devem compor o seu ICP.

 

Se você quiser ser ainda mais específico, pode utilizar algumas métricas que vão te ajudar a identificar esse seu perfil de cliente ideal, como:

 

  • LTV – Deixa o mais dinheiro na sua empresa, por mais tempo.
  • NPS – Sente-se satisfeito com a sua solução.
  • Indicação – Falam bem do seu negócio para outras pessoas e, mais do que isso, traz novos clientes para você.

 

Oriente-se pelos dados e não caia na armadilha

Medir e acompanhar essas métricas vai te dar uma visão importantíssima (e talvez dura) do seu ICP: a realidade.

 

É muito comum que, após levantar e analisar esses dados, gestores percebam que seus clientes ideais não são bem quem eles imaginavam.

 

Mas não se engane, quanto mais orientado por dados for o seu ICP, melhor. Uma vez que ele representa aquelas pessoas com maior potencial para fazerem o seu negócio crescer.

 

E aqui mora uma armadilha que você deve saber identificar e evitar, com muita frieza: a armadilha de achar que o seu ICP não merece atenção.

 

Pode até parecer lógico: se essas pessoas já compram de mim e já estão satisfeitas, eu deveria me dedicar mais a agradar os outros perfis.

 

Mas, na realidade, o seu raciocínio dever ser o oposto. Afinal, são esses clientes que vão te ajudar a manter o seu negócio em crescimento sustentável.

 

É claro que podem existir outros públicos com alto potencial de entrarem para o seu ICP e você deve, sim, se atentar a eles.

 

Mas você não pode deixar de se dedicar a quem já compra de você, gosta e recomenda, colocando ainda mais força nessa alavanca.

 

Por fim, uma vez que você já tenha identificado quem são as pessoas ou empresas que representam o seus melhores clientes, vamos fazer o exercício de agrupá-las em personas.

 

Criando buyer personas para o seu público-alvo

Buyer personas nada mais são do que representações da realidade, ou seja, personagens fictícios que agrupam características relevantes do seu público-alvo, e que servem de guia para você saber com quem e como deve comunicar suas ofertas.

 

É importante destacar que existem alguns riscos em basear o seu marketing em personas.

 

O primeiro deles é criar muitas personas, o que pode tirar o foco da sua comunicação. Se o seu público-alvo for, de fato, mais abrangente, tudo bem criar algumas personas, mas tente sempre manter o menor número de possível delas, focando nas características mais relevantes dos seus ICPs.

 

Outro risco é ser imaginativo demais. Ou seja, criar buyer personas baseadas em achismo, que não representam a realidade do seu ICP.

 

Lembre-se que a grande vantagem de utilizar dados para determinar quem são seus clientes ideias é se manter cada vez mais próximo da realidade.

 

É claro que um pouco de feeling pode te ajudar a preencher lacunas que os dados podem não dar conta. Mas utilize esse recurso com parcimônia, ou você pode acabar focando em pessoas que não vão levar o seu negócio tão longe quanto poderiam.

 

Certo, e por onde eu começo para poder criar minhas buyer personas, então? – você deve estar se perguntando. E, se você já levantou as informações de segmentação do seu público e já identificou seu ICP, o caminho é simples:

 

Comece listando as características geográficas, demográficas, psicográficas e comportamentais de todos os clientes que você identificou como ideias. Se não souber alguma delas, pergunte – ou imagine.

 

Agora, basta identificar as características que mais aparecem, agrupá-las e distribuí-las em personagens que representem esses grupos. Crie o número de personas necessário para representar esses grupos de características, mas lembre-se que quanto menos personas, melhor.

 

Por fim, dê um nome e um rosto para cada uma dessas personas. Pode parecer algo sem importância, mas isso pode ajudar o seu time de marketing na hora de criarem conteúdos e anúncios direcionados para cada uma das suas personas.

 

Se quiser, você pode ainda utilizar a Make My Persona, uma ferramenta gratuita da Hubspot para te ajudar na criação das suas buyer personas.

 

Encontre o ICP de cada produto

Esse é o último tópico aqui. Mas, com toda certeza, não é o menos importante.

 

Uma vez que você já sabe como definir corretamente o seu público-alvo e sabe como identificar o seu perfil de cliente ideal, você deve realizar esse processo para cada um dos seus produtos ou serviços.

 

Isso, porque cada solução que você oferece pode resolver um problema diferente e específico. Ou pode resolver o mesmo problema, em diferentes níveis. Independente do seu cenário, pessoas diferentes tenderão a se conectar com cada uma das suas ofertas.

 

É claro que você pode dizer que possui apenas um produto, ou produtos diretamente complementares, que acabam atingindo as mesmas pessoas. Mas também é bastante provável que você esteja apenas seguindo um feeling.

 

Portanto, aqui, os dados são novamente seus aliados. Uma vez compilar e analisar os dados de LTV, NPS e indicação para os clientes de cada uma das suas soluções, você será capaz de identificar os padrões e as divergências entre eles. E será capaz de agrupá-los de maneiras diferentes.

 

Por fim, eu sei que ressaltamos alguns parágrafos acima que é importante você determinar o mínimo de buyer personas possível. Porém, mais do que isso, é importante você determinar o número necessário de personas.

 

E quanto maior for o seu portfólio de produtos, maior será a necessidade de você criar mais personas ou ICPs, inevitavelmente.

 

Trabalhar com muitos ICPs e buyer personas diferentes vai, sim, aumentar a complexidade do seu marketing. Mas simplificar demais o seu público-alvo também poderá deixar o seu negócio míope, sem sair do generalismo.

 

E o nosso objetivo aqui é, justamente, te fazer enxergar melhor.